quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Para Victor Hugo



Filho, imagine só a seguinte cena: uma família andando pelo shopping center num Domingo qualquer. Esta família é composta de três meninas, além deste que lhe escreve, e sua mãe. A cena já gera comentários diversos, como “nossa, que família grande”, “que corajosos!”, “meu herói”, dentre tantos outros. Agora tente imaginar esta mesma família nesta mesma situação, mas adicione como ingrediente uma barriga gigantesca em sua mãe, como se a mesma estivesse prestes a parir um pequeno planeta.

Filho, o pessoal tenta disfarçar, em vão. De algo modo, pego cochicho de um lado, risinhos de outro e comentários irônicos. No começo confesso que tinha um pouco de vergonha. Depois passei pela curiosidade (“o que será que estão falando? Será que acham que não somos instruídos, que não conhecemos nenhum método contraceptivo? Será que somos mórmons ou católicos fervorosos?”).

Depois tudo passa. Parei de me importar. Ao contrário: em algum momento comecei a achar graça e fazer piada com a situação. Posteriormente, passei até a sentir orgulho de tudo isto.

Mas vamos ser sinceros, filho. Quatro crianças é coisa, hein? Quando paro para pensar, penso que vou enlouquecer com o futuro – é preocupação demais...! Financeiramente, até que vamos bem – tirando a sua mãe maluca que hora tem alguns surtos e não só esquece cálculos simples de matemática, mas também que o seu pai é renda fixa.

A preocupação é outra: é com o sofá.

Não cabe. Já tentei sentar algumas pessoas para fazer o teste e não dá certo. Comprei um maior, mas mesmo assim, espremendo, dá para cinco. Isto significa que alguém vai sobrar para o braço. Se futuramente eu for presentado como uma poltrona, já sei que é o sinal para eu “cair fora”.

A preocupação é outra: é com o carro.

Não cabe. Tem que comprar um sete lugares. Só que entenda o cálculo: sete lugares são para famílias grandes. Famílias grandes gastam mais. Logo, sobra menos renda (quando sobra). Mas acho que as montadoras não entendem isto e vendem carros de sete lugares a preço de moradias habitacionais. Como é caro. E a seguradora pensa do mesmo modo. Como é caro.

A preocupação é outra: é com a pizza.

Uma só não dá. Já não está dando agora, com suas irmãs crescendo, estão comendo mais. Quando ligo, já peço a pizza mais umas quatro esfihas. Agora já terei que encomendar de duas. Refrigerantes de dois litros significa menos que uma lata para nós seis. Suco então, só se for de caju concentrado – que rende 5 litros. Se for natural, tem que começar a preparar um dia antes para encher as jarras.

E ainda assim, você pode se perguntar, filho: “por que então eu nasci?”.

Não sei lhe responder, mas posso te mostrar umas coisas a respeito da vida. Nós somos orientados a ela. Nós temos sede de viver. Nós queremos até mesmo vencer a morte para prosseguir além daqui num outro plano. O ser humano não quer morrer. Eu quero viver por 500 eras e atravessar milênios.

Tem um certo mistério que nos prende aqui. E tem outro que nem é tão mistério assim: a vida é boa. Acredite. Tanta desgraça nos jornais, a violência e o crime são manchetes diárias, mas basta o sorriso de uma criança ou um gesto bonito que esquecemos tudo o que há de ruim.

Vamos dizer sempre que ser humano não presta, que estamos condenados, mas cá estamos, nos divertindo em família, fazendo um churrasco, celebrando o natal e relembrando histórias bonitas. Pois temos muitas histórias bonitas para contar. Mesmo aquelas que são difíceis também são bonitas. Mesmo na tragédia há beleza para expor. Por que a vida é bonita.

E você vem aí, logo mais: as 07:00h da manhã. Victor Hugo Guimarães Venancio. Eu gosto da sigla VHV, mas sua mãe me enche o saco: “cadê o G?”. Não entende que geralmente usamos o primeiro e último nome. Eu a respeito, VHGV.

Victor Hugo é um dos expoentes da literatura, estadista francês, que escreveu grandes clássicos, como “Les Miserables”, “O Corcunda de Notre Dame” e “Os Trabalhadores do Mar”. Vem do latim “Vitória Certa”.

Victor Hugo é o nome de uma grife de bolsas famosíssimas, daquelas pomposas e chiques – criada por um sujeito uruguaio - que carrega o mesmo nome e que atualmente mora aqui em nosso país.

Filho, acabo de descrever o seu nome sob duas visões: a minha e a de sua mãe. Eu escolhi o seu nome, então parabéns! Você carrega uma homenagem ao escritor francês! Eu amo cinema e literatura.

E para sua sorte, também amo videogames. Então provavelmente você terá um acervo enorme de games assim que tiver idade para tal – prometo que irei guardar para você. Sabe outra coisa que deu sorte? Tenho umas HQs bem antigas aqui comigo: coisas do Superman, Batman e outros. Espero que você curta. Tem pessoas que até matariam por estas edições e elas te esperam quando se tornar maior.

Filho, tem um milhão de coisas para dizer, mas daqui a pouco amanhece o dia e eu preciso levar a sua mãe para realizar o parto. Imagine só a nossa ansiedade.

Porém, vou te colocar a par do mundo nesta data. Resultados da Copa do Brasil:

  • Corinthians 2 x 0 Luverdense (filho, quase passamos vergonha aqui – mas somos os atuais campeões do mundo).
  • Grêmio 2 x 0 Santos (tá coisa a feia para o Santos).
  • Atlético-PR 3 x 0 Palmeiras (e o nosso rival, que está na série B?)

Filho, mais uma de esporte: neste momento, o São Paulo está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e o Brasil inteiro faz votos para que aí fique.

Filho, aí vai minha primeira lição: odeio o São Paulo, o Palmeiras e o Santos, mas amo os são paulinos, os palmeirenses e os santistas. Isto é apenas um esporte. Os clubes são rivais, não inimigos. Algumas pessoas não entendem isto. Esporte para o público é apenas entretenimento, como ler um livro ou ver um filme. Nada mais do que isto.

Além disto, Anderson Silva, campeão a tantos, foi derrotado de forma polêmica e promete revanche no fim do ano. Isto foi um balde de água fria. O maior lutador de MMA de todos os tempos derrotado de modo infantil.

Neste mesmo ano, pessoas se reuniram e saíram às ruas para protestar por um Brasil melhor. Estes protestos duraram quase um mês (e ainda continuam em menor escala). Foi de arrepiar! Espero que a sua geração continue a lutar pelos seus direitos!

  • Salário mínimo de R$ 678,00.
  • Uma boate pega fogo e 242 jovens morrem – uma triste tragédia no Rio Grande do Sul.
  • Fim do mandato de José Sarney (!!!) e início de Renan Calheiros (???)
  • Um papa renuncia ao papado pela primeira vez na história (?????????)
  • Xbox One e Playstation 4 são apresentados ao mundo
  • Golpe de Estado no Egito
  • Morre Chorão, Hugo Chavez, Bóris Berezovski, Dominguinhos e Emílio Santiago.
  • Mega Sena acumula e pode pagar 32 milhões no próximo sábado.
  • Dólar à R$ 2,40.

Filho, há tantas coisas... Logo te encontro e te conto mais coisas... Não se esqueça de ler Dostoiévski e assistir Bergman. Woody Allen é dos meus, leia também a obra de José Saramago. Batman – O Cavalheiros das Trevas é um grande quadrinho, assim como Peanuts e Mafalda. Dê uma chance para a Trilogia Matrix e leia sobre Jean Baudrillard.

Até mais,

Evandro V.

domingo, 28 de agosto de 2011

Louca Obsessão



É incrível como os filmes baseados nas histórias de Stephen King que não são do seu gênero mais conhecido, o horror, são de uma qualidade impressionante. Temos vários exemplos, como “A Espera de Um Milagre”, “O Aprendiz”, “Um Sonho de Liberdade”, “Eclipse Total” e “Louca Obsessão” – todos excelentes e sem precisar valer-se de criaturas ou demônios da escuridão.

Os dois últimos desta lista foram interpretados pela magnifica Kathy Bates, sendo que neste último sua interpretação foi tão suprema que lhe valeu o Oscar de melhor atriz, além de um Globo de Ouro. Também não é para menos: o que Bates faz em “Louca Obsessão” é semelhante ao que Jack Nicholson faz em “O Iluminado” – uma aula de variações de expressões que traduzem perfeitamente o sentimento da personagem, que varia da tranquilidade para a insanidade em questão de poucos segundos.

A história não tem nada de mais: um escritor famoso por uma série de livros envolvendo uma personagem chamada Misery deseja escrever o último episódio. Ao se retirar com o manuscrito, acaba por se envolver em um acidente de carro num local distante.

Annie Wilkes, uma moradora das redondezas, socorre o escritor, que está bem debilitado, e passa a cuidar dele. Quando acorda, ele se encontra na cara de Wilkes, que se apresenta como enfermeira e fã número de sua personagem Misery. Devido à tempestade de neve que está caindo, ela fica impossibilitada de leva-lo para o hospital, então resolve trata-lo ali mesmo.

Tudo parecem flores para o escritor, que até então vinha sendo muitíssimo bem tratado até que Wilkes lhe faz um respeitoso pedido: que pudesse ler o manuscrito de Misery. Como forma de gratidão, o escritor consente sem nem imaginar os problemas que isto iria lhe trazer.

Logo nos primeiros capítulos, Wilkes fica possessa com o vocabulário chulo de Misery, porém quando ela descobre que a protagonista morre no final do livro é que a mulher se converte numa figura pior que o próprio diabo: tem início o terror psicológico e a tortura física que irá impor ao seu convidado.

Com momentos extremamente tensos e aterrorizantes, provenientes de situações inesperadas, “Louca Obsessão” tem um resultado muito acima da média do gênero, fruto dos diálogos bem construídos somados com as interpretações magistrais de Bates e de James Caan. Outro filme imperdível que não pode ficar de fora.    

domingo, 21 de agosto de 2011

O Labirinto do Fauno



Todo conto de fadas, sob a minha ótica, é um tanto quanto macabro. São intrigas, assassinatos, personagens complexas e muitas vezes irresolvíveis. Quase sempre temos tortura psicológica tão extrema que somente a realização de um sonho extremo pode livrar a personagem desta condição. Geralmente, nestes contos, a salvação se dá na figura do príncipe encantado – elemento valente, heroico, que nada teme e que nada sofre.

Na história de O Labirinto do Fauno não há príncipe encantado, visto que a história é a salvação para todos os males. Além disto, em vez dos desenhos com traçado ricos em cores, aqui o ambiente é triste e sombrio. Neste cenário, é a figura da menina Ofélia que traz alguma coisa de esperança. O Labirinto do Fauno é o conto de fadas idealizado pela protagonista mirim para oferecer-lhe uma saída para um mundo aparentemente sem solução.

O filme se passa no final da ditatura de Franco, na Espanha em 1944. Alguns remanescentes fascistas continuam a alojar em montanhas, escondidos da resistência civil, que aos poucos vão limpando a Espanha. Carmem está grávida do Capitão Vidal, fascista duro e onipotente – homem este que não agrada nem um pouco à Ofélia, filha apenas de Carmem, cujo pai havia morrido anos antes.

A partir deste ponto contém spoilers, ou seja, alguns trechos poderão conter partes da trama e isto poderá estragar o seu prazer, caso ainda não tenha assistido o filme.

Próxima de ganhar o bebe, o Capitão Vidal obriga aos seus subordinados a trazer a mulher e Ofélia para a montanha onde eles estão alojados, viagem está que desgasta totalmente a mulher, de modo que ela fica muito doente.

Diante de um cenário novo e assustador, Ofélia – que é leitora assídua dos contos de fadas – passa a fantasiar a respeito de uma fada que lhe leva para um Labirinto onde lá encontra um Fauno que lhe explica que ela era, na verdade, a princesa do mundo subterrâneo, a qual o seu pai lhe esperava há muito tempo. Para conseguir abrir o portal que levariam os de volta ao seu mundo, ela precisava cumprir algumas missões.

Na verdade a história é um subterfúgio para as coisas que Ofélia iria realizar. Era o ponto de fuga que a menina idealizou. Paralelamente a estas missões, a maldade do Capitão Vidal, por trás de um cenário de guerra e constante tensão, faz com que a menina simplesmente se esconda em sua própria história.

O final é muito comovente, pois da maneira como ela criou a sua história, Ofélia conseguiu enfrentar todos os seus desafios com bravura. Finalmente ela consegue abrir o portal e passar para o mundo subterrâneo, onde lá será feliz para sempre.

Guilherme Del Toro criou sua obra prima com este filme, que ganhou mais de 70 prêmios pelo mundo afora, incluindo três oscars. O Labirinto de Fauno é uma belíssima história, um conto sinistro sob a nossa realidade contada sob a perspectiva das fadas.

Band of Brothers II: Day of Days



O segundo episódio de Band of Brothers começa exatamente aonde termina o anterior: com os aviões indo em direção a Normandia para que os paraquedistas americanos, britânicos e canadenses pudessem saltar e ingressar em definitivo na campanha.

Atenção, a descrição abaixo contém spoilers, muito embora não seja nada mais do que um relato de um assunto de conhecimento geral.

Novamente, a cena é magistral e dá frio na barriga: o momento é de mais pura tensão. A primeira fez que surge a luz vermelha em dos aviões é de arrepiar – eu levei às mãos a cabeça, como se o meu time fosse cobrar um pênalti num jogo de futebol. Quando ficou verde então, quase tive um colapso.

Como pano de fundo, parecia que os aviões estavam entrando direto no inferno. Bombas, artilharias, pessoas sendo atingidas, paraquedistas sendo mortos por rajadas durante o salto, aviões sendo totalmente destruídos, enfim, eram cenas do apocalipse.

A sensação é que não há como sobreviver em meio à recepção da base alemã. Como resultado da defensiva, as Companhias chegam ao solo totalmente fora de posição. Aquilo que havia sido combinado acaba por se desfazer, sendo que muitos soldados ficam distantes um dos outros, precisando contar com suas intuições, além da sorte, para chegar ao local combinado.

Dentre eles está o tenente Winters, o bravo líder mencionado brevemente no artigo anterior, que desembarca perdido, mas logo se dá com o soldado Hall, da Companhia A – como ambos estavam perdidos, o mesmo se unem para chegar ao ponto de encontro. Diante de muita tensão, alguns soldados vão se encontrando e formando um pequeno pelotão. No caminho, alguns alemães são vistos e emboscados – sendo que há uma primeira insubordinação quanto à liderança de Winters, que observa um dos seus soldados abrirem fogo sem que a ordem fosse respeitada – inclusive contra um soldado alemão que havia se rendido.

Entretanto eles chegam à base intactos. Logo na entrada, uma cena inusitada: alguns soldados alemães estão rendidos, e um dos soldados da Companhia Easy faz uma piadinha com eles, dizendo de onde eles são. Um responde que é exatamente dos EUA, de uma região muito próxima a um dos soldados da Easy.

O mesmo fica espantado e vai puxar assunto com o alemão, tentando descobrir mais dele. Tamanha é a proximidade, que ele mesmo se convence que os seus familiares devem conhecer os familiares dele, então um clima amistoso é criado. Ao questionar o que o soldado “alemão americano” estava fazendo ali, o mesmo responde que é graças aos seus pais, que eram alemães e que responderam a convocação da pátria.

Quando o papo não poderia ser mais descontraído, eis que abrem fogo contra os reféns alemães e todos são mortos. Isto aí que é a guerra. Um bando de gente inocente lutando por aqueles que se escondem atrás das mesas e patentes e por entre planos de papel - alguns por mérito, outros por pura politicagem.

A Companhia Easy é destacada para participar de um episódio conhecido como “Assalto à Brécourt Manour”. A campanha foi elaborada pensando em inutilizar quatro canhões alemães que estavam dizimando a tropa aliada assim que eles desembarcavam na praia de Utah.

Estes canhões estavam protegidos por diversas trincheiras e casamatas, o que dificultava a ação da Companhia Easy, comandada agora por Winters, que elaborou uma estratégia de ataque: dividiu a sua equipe em três, sendo que cada uma atacou por um lado.

Então, cada equipe ia percorrendo uma trincheira e inutilizando os canhões com explosivos. Ao término os próprios alemães estavam se atacando pensando que era o inimigo que estava do outro lado. A estratégia foi muita valida do ponto de vista tático, visto que confundiu o inimigo. Além disto, foi bem executada, visto que a única baixa do lado alemão foi o soldado Hall, da Companhia A, que havia se aliado à Companhia Easy por ainda não ter encontrado os seus colegas.

A Companhia Easy, ainda fragmentada, nada sofreu. Além disto, foi encontrado um mapa alemão que entregava a localização de todos os canhões espalhados pela Normandia, o que foi utilizado pela inteligência e possibilitou grande sucesso na estratégia realizada por outras companhias.

Intriga Internacional



Não dá para falar sobre Sir Alfred Hitchcock sem mencionar o seu rótulo: Mestre do Suspense. Ele mesmo gostava de ser chamado assim. Uma vez disse que se um dia ele fizesse uma versão de Cinderela, todos iriam procurar por um corpo na carruagem. Nem precisa ser cinéfilo para ter esbarrado com uma obra sua, sendo que muitos dos seus filmes possuem cenas que estão carimbadas na galeria das mais famosas de todos os tempos.

Intriga Internacional (North By Northwest no original) é um destes filmes. Porém consegue a façanha de ir um pouquinho mais além: possui mais de uma cena armazenada neste hall. Antes da análise, segue um pequeno pedaço para vocês apreciarem ou relembrarem:

Ataque do avião pulverizador - http://youtu.be/ETl_rr0SMFI
Perseguição no monte Rushmore - http://youtu.be/Ahd38-eclaI

A mescla das duas cenas é a capa da edição comemorativa de 50 anos do filme onde, graças aos avanços da tecnologia, podemos assistir estes clássicos como se fossem filmes lançados ainda agora – devido ao tratamento de alto nível na restauração para as novas mídias.

Este filme é um dos melhores trabalhos de Hitchcock! Se contextualizarmos com o seu tempo, se torna ainda melhor. É uma história de espionagem e contraespionagem, onde o protagonista é apenas vítima do todo, porém descobrimos que ele era parte do todo sem que soubesse. Além destes ingredientes, temos um que eu particularmente gosto muito: a sobreposição da realidade – ou melhor, o lançamento do homem num universo fictício que acaba por se tornar provisoriamente o verdadeiro.

Roger O. Thornhill é um homem elétrico e vibrante. Publicitário bem sucedido, de uma personalidade muito interessante, observamos que este é o típico menino que nunca cresceu. Com dois divórcios em seu currículo, Thornhill tem uma dependência moral de sua mãe semelhante a uma criança. Esta semelhança também condiz com suas atitudes: o protagonista nunca hesita em arriscar – como se não tivesse medo de nada.

De uma hora para outra ele é raptado e sua realidade é abruptamente alterada: chegando ao de entrega, os raptores se referem ao protagonista como George Kaplan, no qual acreditam ser um agente detentor de informações muito importantes. Logo, os raptores tentam fazer um acordo com Kaplan, que imediatamente nega e diz se tratar de um engano. Claro que eles não acreditam e logo Thornhill/Kaplan é jurado de morte.

Ele consegue fugir do cativeiro. Porém acaba por se envolver num acidente que o levará para a cadeia. Ele tenta argumentar o que aconteceu, mas tudo parece tão fantasioso que nem sua mãe acredita em si. Ainda assim, a polícia resolve investigar o suposto cativeiro, mas ao chegar ao local nada é como parece: nenhuma evidência do que foi dito por Thornhill/Kaplan é encontrada – logo, ele continua sendo um criminoso falastrão.

Por si só, Thornhill decide investigar quem é Kaplan e por que estão em cima dele. Porém observa que para ter sucesso, precisa se travestir de Kaplan e assim o faz, assumindo uma espécie de dupla personalidade. Logo, o misto de Thornhill e Kaplan irá se envolver numa bola de neve gigantesca, onde agências do governo, polícia e criminosos estarão todos envolvidos consigo no cerne do enredo.

Enfim, é um daqueles filmes obrigatórios que ninguém deve deixar de ver, que seria responsável por influenciar uma das maiores franquias do cinema de todos os tempos: o espião 007. Sim, em Intriga Internacional muitos dos elementos apresentados seriam utilizados nos filmes vindouros de James Bond (inclusive um quase remake da cena mais inesquecível do filme – aquela que se encontra no primeiro vídeo que eu coloquei logo no início desta resenha).

Sob a batuta de Hitchcock (que aparece na primeira do filme) e com atuações impecáveis da linda Eva Marie Saint e do inigualável Cary Grant – que, por sinal, recusou o convite para interpretar Bond – Intriga Internacional é um filme para ver, rever e recomendar!

* Para título de curiosidade, o protagonista se apresenta como Roger O. Thornhill. Uma mulher lhe pergunta o que significa o “O” no meio nome e ele responde “nada”. De uma forma inteligente, polêmica e irônica, Hitchcock está dando uma espetada no seu ex-produtor David O. Selznick.   

sábado, 6 de agosto de 2011

O Clone de Cristo II: Nascimento de Uma Era


O primeiro volume da trilogia foi muito bom, logo decidi continuar a leitura através do volume seguinte para conferir o andamento da história.

Creio que este livro pode ser dividido em três partes: 1) As tragédias que devastaram o planeta Terra através da colisão dos asteroides; 2) A ascensão de Christopher na ONU; 3) A revelação de quem é Christopher.

A nota para ambas as fases, na sequência: Péssima, Excelente e Regular.

Se você não quiser ler spoilers, peço para que pare imediatamente, pois relevarei detalhes importantes da trama.

Uma das coisas mais apaixonantes da literatura é a capacidade quem ela tem de estimular a imaginação dos leitores. Um bom autor, além de contar uma boa história, é aquele que sabe como conduzir a sua narrativa de modo que o leitor sinta imerso nas páginas que se seguem.

Na primeira parte do volume fico com a sensação de que James BeauSeigneur não soube explorar este recurso. Muito pelo contrário, ele acaba sendo preciso demais em suas informações - de modo que o leitor não é instigado a estabelecer o pano de fundo através de sua imaginação. Diante de uma série de tragédias anunciadas, a narrativa traçar detalhes desnecessários, como milissegundos de aproximação do asteroide, circunferências milimétricas, aceleração e outras coisas que só fazem sentido para o leitor especializado nestes assuntos, que não é o público alvo deste tipo de publicação.

Para corroborar minha afirmativa, segue um trecho do livro:

Cento e sessenta quilômetros ao sul de Fort McPherson, a uma latitude norte de sessenta e seis graus, o asteroide começou a entrar na escuridão. Sessenta e seis segundos mais tarde, a mil novecentos e trinta quilômetros ao sul de onde Fort McPherson havia estado, o asteroide passou a uma atitude de 30,3km, bem a oeste de Edmonton (...) – Pg 80 – Editora Novo Século – 2º Edição

Isto faz com a leitura seja cansativa e maçante, trazendo detalhes que em nada contribuem com a experiência do leitor. Não posso afirmar que é este o caso, mas a impressão é que o autor apenas quis aumentar o volume com páginas adicionais, sem a pretensão de trazer qualidade.

Felizmente a coisa melhora bastante na segunda parte do livro, quando as atenções voltam para Decker e Christopher, que voltam ao papel de protagonistas do enredo. Neste momento há uma retomada a forma como o primeiro volume da trilogia foi conduzido.

Nesta parte, Christopher, cônscio do seu papel de Salvador, começa a mostrar o seu poder como curandeiro mediante o público, graças às inúmeras pragas causadas por João e Cohen, confirmando os acontecimentos proféticos descritos no livro do Apocalipse.

Paralelamente, com as sucessivas curas, Christopher é apoiado e incentivado a ocupar o cargo mais alto na ONU. Entretanto, no dia da cerimônia de posse, ele é assassinado por um antigo amigo de Decker.

Após esta trama, começa aquilo que eu classifiquei como a terceira parte: Christopher ressuscita numa cerimônia publica. Durante a sua morte, muitas coisas são respondidas e finalmente ele revela quem é para Decker. De certa maneira, ele assume sua identidade de anticristo, entretanto afirma que a classificação é errônea, visto que ele é bom e as duas testemunhas, assim como o próprio Deus, são os vilões da história.

Deus seria uma entidade de outro planeta que resolveu se refugiar na Terra para que ele fosse amado pela sociedade, numa atitude egoísta e mesquinha. Cabia a Christopher, neste momento, acabar com a farsa e livra a humanidade de dogmas e falsos credos.

Entretanto fica cada mais evidente que o plano do autor é justamente testar o quão persuasivo pode ser um discurso bem estruturado, pois embora eu só irei ter a certeza no próximo volume, tenho a impressão que a ideia do autor é revelar realmente a identidade de Christopher como o anticristo maligno descrito na Bíblia, que tem uma retórica tão desenvolvida que acaba por enganar nós, pobres leitores que apenas procuramos uma boa história.

Ao colocar os malvados como mocinhos, o autor acaba por dar um nó em nossa mente e nos alertar contra a retórica alheia, visto que, em tese, para aqueles que creem, será com um discurso ainda superior que o anticristo se aproximará da humanidade.

Obviamente minha conclusão é precipitada, pois ainda não li o terceiro volume. Baseio-me somente por aquilo que li até o momento. Talvez esteja enganado. Você que leu o livro, por favor, não me conte ainda se minhas suspeitas são validas. Se você parou no mesmo volume que eu, talvez compartilhe de minhas ideias.

No próximo volume vamos saber realmente o que o autor reserva para nós. Espero que ele drible o meu raciocínio e se torne imprevisível, fazendo com que eu retire tudo o que disse nestes últimos parágrafos. Até lá!

domingo, 31 de julho de 2011

A Queda da Casa de Usher


Dizem que A Queda da Casa de Usher, um conto criado por Edgar Allan Poe, é o texto mais adaptado para as telinhas de todos os tempos. Não sei o quanto isto é verdade, mas o fato é que no IMDB a personagem de Roderick Usher aparece em 18 produções! A cada dois-três anos, alguém aparece readaptando a obra para o formato.

Esta versão, que irei discorrer aqui, se trata da primeira adaptação para a televisão, realizada pelo cinema francês em 1928, na época do cinema mudo e em preto e branco. Ela não inteiramente fiel ao texto de Poe, entretanto é uma boa adaptação, sendo que os elementos macros estão todos lá.

O filme começa com Allan indo ao bar procurando pela casa de seu amigo Roderick Usher, que havia lhe escrito um bilhete solicitando sua visita, visto que ele estava doente. Entretanto a casa não é bem vista pelos moradores das regiões – todos ficam assustados somente pela menção da residência, sendo que ninguém se propõe a ajudar o perdido a chegar ao seu destino.

Somente quando oferece dinheiro é que alguém se dispõe a levar Allan ao local, mas não exatamente como devia ser: o empregado leva Allan somente até um local onde é possível ver a casa, dali em diante o empregado se recusa a seguir adiante.

O local realmente é assustador! Todo entorno que envolve a casa é sombrio, diante de uma ventania que parece fazer com que, mesmo o chão, se mexa constantemente. Tudo no cenário ganha movimento, seja pelas deficientes técnicas de filmagem disponíveis na época, seja proposital.

Allan é recebido por Usher, que está pintando um quadro quase vivo de sua esposa – uma tradição da família passada por gerações. O que Usher não percebe é que a cada pincelada, sua esposa vai se deteriorando e ficando cada vez pior. De fato, quanto mais real o quadro fica, mais a sua esposa vai desaparecendo no mundo.

Entretanto, dada a obsessão de Usher com o quadro, numa relação de intimidade que acaba por se tornar mais intensa do que com a própria esposa, ele perde a noção de tudo quando está diante do quadro. Prova disto é o amigo Allan, que basicamente representa os nossos olhos no interior da casa de Usher. De alguma maneira ele entende que o seu amigo está ficando insano.

Agora insanidade mesmo é ficar naquela terrível casa: ela parece ter vida própria. Cortinas se mexem desenfreadamente, uma ventania adentra cada cômodo da residência, sendo que eles são enormes e vazios, enfim, são cenas pra lá de amedrontadoras – cujo efeito é atenuado pelas câmeras da época, que não se estabilizam por nada, além de não revelar inteiramente o que está acontecendo: de fato, me peguei por mais de uma vez cerrando os olhos para tentar enxergar o que está sendo mostrado.

Durante a história a ultima pincelada no quadro leva a sua esposa a própria morte, sendo que Usher fica totalmente inconsolável e passa a acreditar que ela não está morta de forma alguma. A impressão que fica é que o retrato pintado é o coração da casa, que uma vez completo, deseja Usher toda para si mesma. Sendo assim, ela acaba por dar um jeito de expulsar a esposa dali.

Mas Usher não pretende simplesmente ficar ali parado: ele vai até o local onde o corpo de sua esposa foi levado, de modo que tenha a certeza de que lá ela está. Entretanto não é que o homem tinha razão? Sua esposa está viva! Ou então, uma morta-viva... Quero acreditar mais na primeira hipótese.

Entretanto, ao voltar com a esposa para casa, a mesma fica com um ciúme tão grande que passa a se autodestruir. A casa passa a ficar em ruinas e é assim que acaba a história, que na verdade nada mais era do uma história de amor entre uma casa e seu dono.

Como dito, não sei se a técnica empregada foi proposital ou era proveniente dos recursos da época, mas o fato é que o resultado é incrível! Nenhuma outra adaptação foi tão bem recebida pelos entusiastas do cinema – mesmo com tanta tecnologia envolvida. Enfim, um clássico do terror gótico.

Este filme foi visto no NetMovies OnLine para Televisores com acesso a internet. Clique aqui para ler a minha resenha a respeito do serviço.