domingo, 15 de junho de 2008

Donnie Darko - Uma Análise: Parte II

Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte I
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A Preparação do Terreno: Existencialismo e Fenomenologia

O filme é ambientado no final dos anos 80. Logo na primeira cena, podemos perceber por toda a ambientação criada que Donnie Darko é um adolescente diferente: está amanhecendo e ele dorme no asfalto num ambiente paradisíaco, porém solitário e, ainda que claro, é muito sombrio. Ele está longe de tudo, numa colina, e o silêncio é seu único companheiro. Sua bicicleta está caída ao seu lado, o que indica como ele chegou até lá. Ao acordar ele está confuso, como se estivesse a buscar explicação para o ocorrido: como será que eu fui parar aqui? Se levanta e tenta reconhecer o território. Ao direcionar o olhar para baixo, na tentativa de buscar uma resposta dentro de si mesmo, surge um sorriso misterioso em sua face.

Numa análise existencialista, onde o ser é arremessado no mundo e onde, segundo Sartre, a existência precede a essência, observamos o homem perdido, sozinho, sem conhecimento prévio de sua realidade. Ele apenas existe. Não há justificativas para mais nada.

A angústia de acordar - como que pela primeira na vida - em meio ao asfalto sugere uma espécie de renascimento, um reinício. O filme é muito inteligente em partir deste principio, pois podemos analisar a partir de uma determinada premissa, que é a perspectiva do protagonista em relação ao conhecimento. Como não há essência no ser até o momento (somente a existência), por que será que Donnie Bravo não está feliz ou triste, e sim angustiado por não entender imediatamente o que estava acontecendo? Segundo Heidegger, seria porque a angústia do personagem é uma angústia ontológica, que não tem origem em lugar algum. Ela simplesmente está lá. A angústia ontológica é a que permite que o homem seja ele mesmo, que vivencie o seu ser, que não desvie de si. Em outras palavras, faz parte da relação íntima com o seu Dasein - que está sempre aberto para o ser e que permite ser o que se é.

Enfim, é esta angústia que faz com que o ser seja autêntico e viva uma vida integra. O ser que experimenta esta sensação não é triste ou feliz, porém orgulhoso de encontrar este estado. O que há é certa satisfação de se manter diferente aos outros justamente por ser você mesmo. Não deveria, mas é preciso lembrar que cada indivíduo é único. Esta é uma possibilidade para o sorriso que Donnie Darko dá ao final da cena: ele acaba de descobrir a si mesmo e está satisfeito com sua descoberta.


Heidegger e Sartre

O elo onde podemos aproximar o existencialismo com a fenomenologia que apontamos pode ser melhor compreendido ao contextualizar as obras de dois filósofos já citados neste texto: Jean-Paul Sartre (um dos principais desenvolvedores do existencialismo) e Martin Heidegger (grande desenvolvedor da fenomenologia). Heidegger afirmou que o único que havia compreendido plenamente a sua obra durante a vida foi Sartre. Este, por sinal, traduziu o termo alemão heideggeriano Dasein como "existência" (No Brasil, na tradução clássica do texto "Ser e Tempo", o termo é traduzido como "presença").

Outra aproximação entre os dois ocorre naquela que é considerada como a principal obra de Sartre, "O Ser e O Nada", onde este "nada" representaria a angústia ontológica que Heidegger desenvolveu no "Ser e Tempo".

A satisfação de Donnie Darko ao vivenciar o seu Dasein - partindo da premissa que ele para de especular sobre o universo e simplesmente o aceita - é demonstrada na cena seguinte, quando o protagonista está retornando para sua casa em sua bicicleta. Uma sensação de deleite é criada com tomadas de câmera aliada a trilha sonora. Um mundo acontece ao redor de Donnie Darko, porém ele tem o próprio mundo para vivenciar.

Aqui podemos observar as coisas através do ponto de vista do protagonista, que vive uma condição de anormal como uma pessoa que está no além-mundo - observador de um plano superior a este. O que está no intramundano é uma espécie de modelo gerador de padrões que define o comportamento de modo geral. Simplesmente não há novidades. É a vida inautêntica que domina a vida das pessoas. Donnie Darko observa em seu caminho de volta, uma cidade totalmente pacata, indiferente ao resto, onde encontramos pessoas fazendo caminhada, o pai de Donnie cortando a grama do quintal, sua irmã mais velha saindo para passear, sua irmã mais nova brincando no pula-pula e sua mãe lendo um livro de Stephen King. Esta cena representa o típico padrão de família bem perfeita. Donnie Darko não faz parte da normalidade, portanto ele não se encontra neste contexto, afinal ele vive na autenticidade. Por isto tudo parece tão estranho e tão novo ao mesmo tempo.

A relação pode ser recíproca. O mundo também rejeita alguém que não se enquadra em suas próprias normas.

Um comentário:

  1. Oi Evandro,

    há pouco no post do filme 'Preciosa', alguém disse que os links para as demais partes de 'Donnie Darko - Uma Análise' estão indo para um blog que não existe mais.
    Fui verificar, e vi que era verdade.
    Apesar da minha internet estar muito lenta, vim aqui para atualizar os links. O da parte II, está aqui. Mas o da III e da IV é direcionado lá para o seu blog que não existe mais no blogpost.
    Se puder, atualize para mim as demais partes, lá no 'Cinema é a...'
    E me dê um retorno por email, sobre esse problema.
    Aguardo,

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