terça-feira, 17 de junho de 2008

Donnie Darko - Uma Análise: Parte IV

É noite. Todos dormem, com a exceção da irmã mais velha de Donnie (Elizabeth Darko) - que está fora de casa, certamente com o seu namorado. Durante a madrugada, o pai de Donnie (Eddie Darko) perde o sono e vai para a sala. Na televisão ocorre um debate entre dois candidatos à presidência dos EUA. Novamente a cena está recheada de clichês. Porém esta construção de cenário é proposital: é para firmar que esta é uma família como qualquer outra, com a exceção de Donnie, que se destaca e, por isto mesmo, é o protagonista. Pessoas anormais ganham destaque no cotidiano da vida, talvez não para quem está dentro desta bolha conhecida como vida, mas para quem está do lado de fora dela. A observação do enredo é realizada através dos olhos de Donnie Darko porque a surpresa reside em seu olhar. A perspectiva de quem vive o convencional não é nova, é apenas imitação dos padrões estabelecidos. Que novidade traria o filme sob a perspectiva de Elizabeth? Porém o mais importante é a mensagem que os eventos que aconteceriam a seguir poderiam ocorrer em qualquer lugar a qualquer momento.


O 1º Dia: 02/10/1988

Em meio a escuridão total, uma voz suave clama por Donnie Darko. O protagonista abre os olhos. Sua pupila se dilata e seu olhar é diferente do que já vimos. Donnie segue a voz vagarosamente até o lado de fora da casa.

Do lado de fora, Donnie se aproxima da voz que lhe chama. Surge a figura de um homem fantasiado de coelho (por sinal, um coelho macabro e aterrorizante). Ele apenas diz: "28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos para acabar o mundo".

Ele se encontra em estado sonâmbulo, embora exista a remota possibilidade que estes acontecimentos não passe de um sonho. Digo remota porque logo a câmera que segue Donnie irá focar no seu pai, que está dormindo no sofá. A televisão está ligada, porém está fora do ar, apresentando sinal de estática. Então sua Elizabeth chega em casa e ao fechar a porta sua casa começa a estremecer: o quarto de Donnie Darko é atingido por uma turbina de avião.

Após este cataclismo, Donnie Darko acorda estendido num campo de golfe. Ele está desorientado, não entende o que está fazendo ali. Será que ele se recorda do que aconteceu? Será que tudo não passou de um sonho? Ou simplesmente ele não se lembra de nada? Dois homens, sendo um deles Jim Cunningham - um palestrante de auto-estima e motivação da região, estão no campo e hostilizam a presença de Donnie, como que para dizer "aí está o famoso menino lunático". Saia daqui, Donnie, volte para sua casa! Cunningham diz: Eu odeio crianças!

Ao considerar a análise existencialista até aqui, podemos especular algumas coisas: a vida de Donnie Darko já era totalmente desprovida de sentido. Não havia significado em sua existência. Porém, ao atender o chamado da voz, surge uma nova dimensão. Talvez, metaforicamente, esta voz seja a voz da significação. É aqui que ele ganha status de herói. Há uma virada no tabuleiro, e ele passa a ser o centro das atenções.


Einstein e Alice no País das Maravilhas

Esta outra dimensão é uma espécie de novo universo que serve de elo para conectar a realidade de Donnie Darko a realidade do restante do mundo. Ele pode, finalmente, transitar entre os dois universos, ainda que não diretamente. O que evidencia esta abertura de uma nova dimensão, a meu ver, são dois acontecimentos:

1) A estática na televisão da sala, onde dorme o pai de Donnie.
Neste caso, a referência é o conceito de wormhole desenvolvido pela física, sendo que "os wormholes oferecem um mecanismo menos problemático para viagens interestelares rápidas. Um wormhole pode ligar dois universos diferentes ou então duas regiões distantes do mesmo universo" (Referência: http://www.zamandayolculuk.com/cetinbal/wormtransi.htm). Para Einstein, um wormhole será transitável ser sua solução for esfericamente simétrica e estática.

2) O aparecimento do coelho.
Metaforicamente, simboliza o coelho branco que conduz Alice até o país das maravilhas, na fábula de Lewis Carrol. O país das maravilhas é uma nova dimensão sob o mesmo mundo, composto de coisas bizarras, onde Alice, perdida, sozinha e desorientada, busca a saída sem saber como. Alice apenas existe nesta nova dimensão e toda a essência e conhecimento necessário são adquiridos durante a sua aventura.

Com base nestas duas impressões, podemos afirmar que uma dimensão que conecta dois pontos foi criada; podemos dizer também que este cruzamento de dimensões pode trazer acontecimentos estranhos, assim como Alice no país das maravilhas, justamente por mesclar presente e futuro, ou mesmo uma realidade alternativa. È por isto que cai uma turbina de avião sem ter avião algum. De certo modo, a turbina pode fazer parte de uma dimensão enquanto o avião está presente em outra. Desta forma, existe a possibilidade que nesta outra realidade, o avião tenha caído sem que a turbina seja encontrada.

Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte I
Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte II
Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte III
Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte V
Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte VI

Um comentário:

  1. Muito interessante essa análise, embora eu não ache muito razoável pensar no filme de forma estritamente racional, como você faz aqui, se tratando de uma obra surreal.

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