domingo, 6 de julho de 2008

Donnie Darko - Uma Análise: Parte VII

Ver Donnie Darko - Uma Análise: Parte VI

Temos na sequência uma aula com a perturbada professora Karen Pomeroy, que faz a leitura de um trecho de Graham Greene. O texto faz referência a invasão e destruição da "Velha Casa da Miséria" por adolescentes recém chegados à puberdade, que representa uma bela metáfora a ser discutida. Para quem tiver curiosidade, o texto se chama "The Destructor", uma leitura aprofundada no texto pode ser encontrada em http://www.bookrags.com/The_Destructors (somente em inglês).

Após a leitura a professora pergunta a classe o que o autor quer dizer com aquela passagem, na tentativa de impôr uma reflexão e discussão entre os alunos. Eis que alguém levanta a mão e responde seriamente: "Eles queriam roubá-la". Não surpreendida, a professora lhe humilha perante a classe, ao afirmar que ela não havia lido o texto, já que no decorrer da história as crianças encontram bastante dinheiro no colchão, porém o queimam.

Novamente temos o universo de Donnie Darko reafirmado como muito próximo ao nosso. Todas as coisas do dia-a-dia de uma vida normal, do ingrato cotiano, estão presentes no filme. A professora já não se impressiona com a demência e imbecilidade dos fracassados numa sala-de-aula, cujo ensino não é absorvido de forma voluntária, e a tentativa é de impôr a educação à todo custo, como uma espécie de agressão indireta, e nem por isto menos cruél. A vida na escola é como uma espécie de pena a ser cumprida por um crime não cometido, sendo assim a vida é ardúa e é quase impossível exiger o interesse por parte dos alunos, sendo a tarefa do educador a de encontrar um ponto-de-equilibrio onde ensinar e aprender seja uma atividade que flua como crescimento interior, e não como imposição e punição. Neste ponto, Paulo Freire irá trabalhar toda a sua obra sobre como educar as crianças dentro de uma escola.
uma escola através de uma pedagogia da autonomia que rompe com todos estas barreiras que impedem que as pessoas cheguem ao conhecimento.

Então a professora direciona a questão para Donnie Darko, que analisa a passagem da destruição da casa como forma de criação para ver o que acontece quando o mundo é virado às avessas, numa tentativa de mudar as coisas. Esta interpretação irá influenciar Donnie Darko nos acontecimentos deste novo universo que se expande após a queda da turbina de avião. Neste caso, a professora teve um papel fundamental no direcionamento da história, interferindo diretamente no seu desenvolvimento.

Outro fator-chave que professora exerce é colocar uma nova aluna sentada - Gretchen Ross - ao lado de Donnie, pois a mesma terá uma grande importância na vida do mesmo. A questão que fica é: será que o professora já sabia o que iria acontecer e estava manipulando os eventos ou tudo fazia parte somente do acaso? A primeira hipótese é a mais provável, e neste caso a professora funciona como uma espécie de uma jogadora de um tabuleiro maior, que iria guiar e influenciar Donnie para o futuro como se ele fosse um peão vivo.

O ponto de reflexão é justamente este: nós temos influência direta nos acontecimentos da vida, e embora não sabemos o que irá acontecer no futuro, é certo que tudo o que fazemos agora irá alterar tudo o que irá acontecer lá na frente. Sendo assim, o leque de possibilidades é infinito e para cada porta que escolhemos entrar surgirá outras inúmeras portas onde deveremos escolhar para onde seguir. O absurdo é que temos tanto que escolher, como se isto fosse uma sentença da vida a ser cumprida com muita dor, e no fim todos os caminhos levam ao mesmo lugar: a morte. Alguns sofrem menos, outros sofrem mais, mas a morte é o ponto-final do expresso da vida.

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